Os
weblogs ou blogs mais comumente chamados surgiram em meados de 1991 e
desde então tem sido utilizado como um meio de agregar conhecimento
e tecnologia, para troca de experiências ou liberdade de expressão.
Para Soares (s/d), um blog é “página web atualizada
frequentemente, composta por posts [...] que são armazenados em
ordem cronologicamente inversa, com as atualizações mais recentes
no topo da página”.
Os
blogs voltados para a educação, os Edublogs, tem sido usados como
um instrumento para a escrita coletiva ou colaborativa, ganhando
importância como objeto de aprendizagem. É bem verdade que a
cultura escolar não tem ainda permitido essa abertura para a
presença das TIC.
O
uso dos blogs na educação reforça as ideias de pensadores como
Paulo Freire e Vygotsky que defendem a construção social da
aprendizagem, o que acontece na cultura dos blogs, onde educadores e
alunos interagem e trabalham de forma colaborativa.
Muitas
são as vantagens de usar os blogs educacionais e Oliveira (2006)
enumera algumas dessas vantagens, dentre elas estão o
desenvolvimento do papel do professor como mediador na produção do
conhecimento, favorece a integração de leitura e escrita num
contexto autêntico, incentivando a autoria, incentiva a criatividade
por meio da escrita livre, promove a autoria e coautoria, incentiva
a escrita colaborativa, dentre outras. Além disso, o uso do blog
pode desenvolver no indivíduo múltiplas possibilidades em seu
processo de aprendizagem, como a capacidade de contextualizar as
ideias.
Fontes:
OLIVEIRA,
Rosa M. Aprendizagem mediada e avaliada por computador: a inserção
dos blogs como interface na educação. in: SILVA, Marco e SANTOS,
Edméa. Avaliação
da aprendizagem em educação online: fundamentos,
interfaces e dispositivos, relatos de experiências. São Paulo:
Loyola, 2006.
SOARES,
Maria S. P. O
BLOG:
conceito e uso pedagógico. Disponível em:
http://teiaeducom.blogspot.com/2005/12/o-blog-conceito-e-uso-pedaggico.html.
Acesso em 24 de junho de 2011
"A
Internet nos ajuda, mas ela sozinha não dá conta da complexidade do
aprender"
A
afirmação é do professor José Manuel Moran. Ele fala sobre o uso
da Internet na educação, fundamentado seu pensamento na "interação
humana",
de forma colaborativa, entre alunos e professores.
José
Manuel Moran é um dos maiores especialistas brasileiros no uso da
Internet em sala de aula. Por isso, não se espere dele o
deslumbramento do marinheiro de primeira viagem. Timoneiro
experiente, ele conduz o barco devagar. Para o educador que acessa a
rede pela primeira vez, ele adverte que nem sempre a maré está para
peixe. "A Internet nos ajuda, mas ela sozinha não dá conta da
complexidade do aprender hoje, da troca, do estudo em grupo, da
leitura, do estudo em campo com experiências reais". A
tecnologia é tão-somente um "grande apoio", uma âncora,
indispensável à embarcação, mas não é ela que a faz flutuar ou
evita o naufrágio. "A Internet traz saídas e levanta
problemas, como por exemplo, saber de que maneira gerenciar essa
grande quantidade de informação com qualidade", insiste.
A
questão fundamental prevalece sendo "interação humana",
de forma colaborativa, entre alunos e professores. Continua a caber
ao professor dois papéis: "ajudar na aprendizagem de conteúdos
e ser um elo para uma compreensão maior da vida". Se o
horizonte é o mesmo, os ventos mudaram de direção. É preciso
ajustar as velas e olhar mais uma vez a bússola. E José Manuel
Moran foi traçar rotas em mares nunca dantes navegados. A novidade é
que "hoje temos a possibilidade de os alunos participarem de
ambientes virtuais de aprendizagem". O grande desafio é
"motivá-los a continuar aprendendo quando não estão em sala
de aula".
Os educadores que não quiserem se lançar ao
mar, muito apegados à terra firme, poderão ficar a ver navios. Mas
não há mais porto seguro: o oceano de informações que a Internet
disponibiliza aos alunos obrigará os professores a se atualizar
constantemente e a se preparar para lidar com as múltiplas
interpretações da realidade. Espanhol que atracou no Brasil, Moran
abandonou por alguns momentos sua tripulação do curso de Rádio e
Televisão da Escola de Comunicações e Artes da USP e nos concedeu
esta entrevista.
O senhor diz que não se deve esperar
soluções mágicas da Internet. Que expectativas devemos ter das
novas tecnologias na educação?
Prof. José Manuel Moran
- Nós esperamos que a tecnologia — teoricamente mais
participativa, por permitir a interação — faça as mudanças
acontecerem automaticamente. Esse é um equívoco: ela pode ser
apenas a extensão de um modelo tradicional. A tecnologia sozinha não
garante a comunicação de duas vias, a participação real. O
importante é mudar o modelo de educação porque aí, sim, as
tecnologias podem servir-nos como apoio para um maior intercâmbio,
trocas pessoais, em situações presenciais ou virtuais. Para mim, a
tecnologia é um grande apoio de um projeto pedagógico que foca a
aprendizagem ligada à vida.
Apesar de ser professor de
novas tecnologias, o senhor acredita que, antes disso, há uma
mudança mais urgente a ser feita no modelo de educação. Qual seria
essa mudança?
Prof. José Manuel Moran - O que
estamos vendo é que formas de educar com estrutura autoritária não
resolvem as questões fundamentais. A questão não é tecnológica,
mas comunicacional. A tecnologia entra como um apoio, mas o essencial
é estabelecer relações de parceria na aprendizagem. Aprende-se
muito mais em uma relação baseada na confiança, em que alunos e
professores possam se expressar. Criar e gerenciar esse ambiente é
muito mais importante que definir tecnologias. Embora eu trabalhe com
elas, noto que o foco está na interação humana, presencial ou
virtual. Preocupa-me muito a dificuldade que temos em estabelecer
relações participativas, porque todos nós carregamos estruturas
tremendamente autoritárias, sendo submissos ou dominadores, e
reproduzimos isso na escola. A cultura da imposição, do controle, é
talvez a barreira mais difícil de derrubar no processo pedagógico.
O senhor faz uma distinção entre ensino e educação,
esta última sendo a integração do ensino com a vida. É evidente a
maneira como as novas tecnologias podem contribuir para o ensino. Mas
como elas podem contribuir para a educação?
Prof.
José Manuel Moran - Quando falamos de ensino, focamos a
aprendizagem de alguns conteúdos. A educação é um processo muito
mais integral, que nos ocupa a vida toda, e não somente quando
estamos na escola. E o professor tem esses dois papéis: ajudar na
aprendizagem de conteúdos e ser um elo para uma compreensão maior
da vida, de modo que encontremos formas de viver que nos realizem e
desenvolvam nossas capacidades. Isso não depende da tecnologia, mas
da atitude profunda do educador e do educando, de ambos quererem
aprender. A tecnologia pode ser útil para integrar tudo que eu
observo no mundo no dia-a-dia e para fazer disso objeto de reflexão.
Ela me permite fazer essa ponte, trazer os conteúdos de forma mais
ágil e devolvê-los de novo ao cotidiano, possibilitando a interação
entre alunos, colegas e professores.
Uma de suas
experiências mais bem-sucedidas consiste em partilhar os resultados
das pesquisas escolares pela Internet. Que mudança isso provoca no
rendimento dos alunos?
Prof. José Manuel Moran -
É uma concepção do aprender de forma cooperativa e não
competitiva. A aprendizagem estava muito voltada só para conseguir
notas, ver quem chegava primeiro. Dentro dessa visão — que não se
dá apenas com a tecnologia, mas também na sala de aula comum —, a
proposta é colocar a interação na prática. Hoje temos a
possibilidade de os alunos participarem de ambientes virtuais de
aprendizagem, tanto de uma forma simples, publicando um trabalho em
uma página, quanto criando debates, fóruns ou listas de discussão
por e-mail. Cada escola e cada professor, dependendo do número de
alunos que ele tenha ou da situação tecnológica em que se
encontra, pode buscar soluções mais adequadas. O importante é o
foco, que o aluno e o professor sejam estimulados a fazer parte de um
espaço virtual de referência que disponibilize o que é feito em
sala de aula. Eu creio que essa área de visibilidade liberta a sala
de aula do espaço e do tempo físico. Porque depois, fora da aula,
pode-se encontrar um pouco do que foi dito pelo professor, o que foi
feito pelos alunos.
O senhor afirma que as novas
tecnologias exigem muito esforço dos professores e, por outro lado,
defende que "o aluno já está pronto para a Internet". Em
que aspectos o aluno estaria em vantagem em relação ao professor?
Prof. José Manuel Moran - Ele é privilegiado na
relação que tem com a tecnologia. Ele aprende rapidamente a
navegar, sabe trabalhar em grupo e tem certa facilidade de produzir
materiais audiovisuais. Por outro lado, o aluno tem dificuldade de
mudar aquele papel passivo, de executor de tarefas, de devolvedor de
informações. Na prática, acaba assumindo um papel bastante passivo
em relação às suas reais potencialidades. O aluno tem capacidade
de ir muito além, ele está pronto. Porém, a escola impõe modelos
autoritários, voltando ao começo, quando o professor controlava e o
aluno executava. E isso não o motiva. Por isso, a mudança mais
séria deve vir mesmo dos professores. O novo professor dialoga e
aprende com o aluno. Isso pressupõe uma certa humildade que nos
custa como adultos a ter. Nós queremos ter a última palavra.
Novamente baseado em suas experiências em sala de aula, o
senhor observa que muitas vezes a navegação é mais sedutora que o
trabalho de interpretação e concentração que a pesquisa exige e o
professor deve estar atento para evitar que os alunos sejam muito
dispersos em suas pesquisas. Isso significa que o professor terá,
diante da tecnologia, de reproduzir o modelo de controle a que o
senhor se opõe?
Prof. José Manuel Moran - Essa é
uma questão difícil de resolver na prática. Muitos alunos estão
numa fase da vida ainda de deslumbramento, estão curiosos. Eles não
têm organização e maturidade para se concentrar em um só tema
durante uma hora. Então eles abrem mil páginas ao mesmo tempo, se
deixam naturalmente seduzir por certos temas musicais ou eróticos,
conforme a sua idade. Esse conjunto de questões dificulta o trabalho
com um tema específico. Essa também não é uma questão meramente
da tecnologia ou do professor, mas da dificuldade de concentração
diante de tantos estímulos.
Há um paradoxo nessa
questão. Há uma quantidade de informação quase inesgotável
acessível pela Internet. Por outro lado, quando se é confrontado
com esse volume de informação, há a tendência de dedicar menos
tempo à análise pela compulsão de navegar e descobrir novas
páginas. Como se pode contornar isso?
Prof. José
Manuel Moran - Em primeiro lugar, reconhecendo que há uma grande
dificuldade. A Internet traz saídas e levanta problemas, como, por
exemplo, saber de que maneira gerenciar essa grande quantidade de
informação com qualidade e como encontrar no pouco tempo que temos
em sala de aula, ou na interação via Internet, algo que seja
significativo, que não seja somente lúdico. Porque o que interessa
é se essa navegação me leva a uma compreensão maior da realidade.
Do ponto de vista metodológico, procuro um equilíbrio: nem impor
demais o processo, que amarra o aluno, nem deixar que as coisas
aconteçam a seu bel-prazer. Eu trabalho com dois momentos. No
primeiro, mais aberto, eu coloco um tema em discussão e o aluno
procura a informação por si. Depois de um certo tempo, passamos a
partilhar o resultado das pesquisas, focamos um determinado artigo ou
outro material, para que não fique muito disperso. Mas é importante
que os alunos não atendam somente a uma determinação prévia do
professor. Creio que esse pode ser um caminho para minimizar a clara
tentação de dispersão na pesquisa via Internet. A Internet reforça
a tendência dispersiva que os alunos têm no cotidiano, quando eles
ficam estudando e ouvindo música, tudo ao mesmo tempo.
Outro
equilíbrio que o senhor considera difícil de alcançar é entre o
deslumbramento dos alunos pelas novas tecnologias e a resistência de
alguns dos professores a esses novos métodos de acesso à
informação.
Prof. José Manuel Moran - Eu
percebo que as atitudes vão mudando aos poucos, que já houve
resistência maior. Mas há professores que inconscientemente fazem o
mínimo possível para utilizar a tecnologia, no máximo usam o Word.
Eles não usam técnicas de pesquisa ou de apresentação mais
avançadas em sala de aula, nem trabalham com criação de páginas.
Então há uma parte dos professores de escolas particulares que,
mesmo tendo laboratórios e acesso à Internet, resistem a métodos
que não sejam tradicionais. Por outro lado, há os que descobrem as
novas mídias e esquecem uma série de formas que podem ser
interessantes em sala de aula, preferindo sempre jogar os alunos no
laboratório, como se fosse uma grande solução. A Internet nos
ajuda, mas ela sozinha não dá conta da complexidade do aprender
hoje, da troca, do estudo em grupo, da leitura, do estudo em campo
com experiências reais. Equilibrar o melhor do ensino presencial, o
estarmos juntos, e o melhor do espaço virtual é básico. Mas
ninguém teve experiência até agora com o equilíbrio desses
ambientes. Antes aprendíamos juntos apenas em sala de aula, e o
aluno tinha de se virar para fazer suas atividades quando não estava
na escola. Hoje podemos aprender quando não estamos fisicamente
juntos.
O senhor atribui essa resistência ao fato de as
novas tecnologias colocarem em xeque a posição do professor como
detentor do saber. O aluno pode facilmente pesquisar algum tema e ver
que há interpretações divergentes e que aquilo que o professor
fala pode não ser bem assim. O senhor sente esse receio nos
professores com os quais convive?
Prof. José Manuel
Moran - O professor, desde que surgiu o livro, sempre teve um
pouco de receio de que o aluno aprendesse outras versões além da
dele. Só que hoje você tem muitas outras formas de informações em
qualquer mídia, e a Internet agrava ainda mais a sensação de que o
aluno pode encontrar informações que o professor não tem. Para o
professor inseguro, é uma espécie de desafio encontrar uma prática
que não seja a do controle. A tentação desse tipo de professor é
fechar em cima de uma única versão. O professor mais maduro
trabalha com múltiplas visões, tentando relativizar nosso
conhecimento, mostrando que estamos construindo algo que é
provisório. A nossa visão agora é esta: eu aprendo com o que o
outro me traz. Essa visão é muito mais tranqüila. É a aceitação
de que eu não sou onipotente, que não tenho respostas para tudo,
não sou enciclopédia. Eu aprendo melhor reconhecendo a minha
ignorância.
O senhor insiste em seus textos na
importância da maturidade do professor ao lidar com a tecnologia.
Quais são as experiências mais maduras que conhece de uso da
Internet em sala de aula?
Prof. José Manuel Moran
- Hoje há muitas escolas que estão tentando encontrar saídas. O
que a maior parte delas faz é colocar os alunos em contato com a
Internet em laboratórios e depois buscar atividades principalmente
entre grupos que não estão fisicamente juntos. No mundo inteiro se
trabalha com esse tipo de projeto. A etapa mais avançada, que começa
agora na minha opinião, é desenvolver o conceito de gerenciamento
de aula, integrando o que é feito pelos alunos quando estão juntos
e fazendo com que o processo de aprendizagem continue quando eles não
estão mais juntos. Hoje há uma série de programas de gerenciamento
de ambientes virtuais que ajudam a trazer temas para a sala de aula.
No fundo, é uma página incrementada com ferramentas de chat e de
fórum em que os alunos vão colocar seus textos. Há uma série de
softwares como o Eureka, o First Class, o Web Ct e o Blackboard.
De
que forma o senhor utiliza esses ambientes virtuais mais integrados
em seu processo pedagógico?
Prof. José Manuel Moran
- Coordeno um curso de pós-graduação semipresencial em que, em
alguns momentos, nós nos encontramos e, em outros, interagimos
somente através da rede: apresentamos textos, discutimos questões.
Temos a relação de uma aula presencial para duas virtuais. É o
desafio que vamos enfrentar pelo menos no nível superior, fase em
que os alunos não precisam ir todos os dias à aula. O desafio é
motivá-los a continuar aprendendo quando não estão em sala de
aula. Também estou coordenando programas de educação a distância
em São Paulo. Educar a distância, mas de uma forma em que haja
troca e não somente repasse de informação, que não seja somente
colocar conteúdo em uma página e depois cobrar uma atividade.
Estimular o aluno a aprender em ambientes virtuais é outro grande
desafio pedagógico que temos hoje. Haverá muita "picaretagem"
de instituições que pensam que educação a distância é uma forma
de ganhar dinheiro.
O que o senhor teria a dizer a um
diretor de escola pública, carente de recursos e com professores que
nem sempre são os mais bem qualificados? Nessas circunstâncias é
mais indicado investir em tecnologia ou centrar-se na capacitação
de professores?
Prof. José Manuel Moran - Eu acho
que não podemos mais ficar apenas nos lamuriando da falta de
condições. É verdade que um diretor de escola não pode fazer nada
sozinho. Isso exige vontade e investimentos públicos nos três
níveis. Estou coordenando uma equipe que desenvolve um programa de
educação a distância na rede pública estadual de São Paulo para
capacitar professores, supervisores de ensino e pessoas que trabalham
em Oficinas Pedagógicas (OTP). São profissionais que estão mais em
contato com novas tecnologias. Na verdade estamos fazendo a
capacitação em serviços a distância, juntando a Secretaria de
Educação e a Universidade de São Paulo, através de uma fundação
chamada Vanzolini, com o apoio do governo federal, do ProInfo.
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